terça-feira, 14 de outubro de 2008
Skandala
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Só a vida basta?
A falácia do mal menor - Arendt
quinta-feira, 10 de julho de 2008
A aparência como categoria política
Arendt, Hannah. A condição humana, 10 ed., trad. Roberto Raposo, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 211.
terça-feira, 8 de julho de 2008
Coragem de ser e participação
Tillich, Paul. A coragem de ser, 6 ed., trad. Eglê Malheiros, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001, p. 71.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Globalização e (in)segurança.
DE AGUIAR, Maria Léa Monteiro. O aparato de segurança e a sensação de insegurança, in Revista Mal-Estar e Subjetividade, v. 2, n.2, p. 230, Fortaleza, 2005.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Roussseau: Discurso sobre as ciências e as artes
[...] Não se ousa mais parecer tal como se é e, sob tal coerção perpétua, os homens que formam o rebanho chamado sociedade, nas mesmas circunstâncias, farão todos as mesmas coisas desde que motivos mais poderosos não os desviem. Nunca se saberá, pois, com quem se trata: será preciso, portanto, para conhecer o amigo, esperar pelas grandes ocasiões, isto é, esperar que não haja mais tempo para tanto, porquanto para essas ocasiões é que teria sido essencial conhecê-lo.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Nómos da terra - Agambem
É esta estrutura de bando que devemos aprender a reconhecer nas relações políticas e nos espaços públicos em que ainda vivemos. Mais íntimo que toda interioridade e mais externo que toda estraneidade é, na cidade, o banimento da vida sacra. Ele é o nómos soberano que condiciona todas as normas, a espacialização originária que torna possível e governa toda localização e toda territorialização. E se, na modernidade, a vida se coloca sempre mais claramente no centro da política estatal (que se tornou, nos termos de Foucault, biopolítica), se, no nosso tempo, em um sentido particular realíssimo, todos os cidadãos apresentam-se virtualmente como homines sacri, isto somente é possível porque a relação de bando constituía desde a origem a estrutura própria do poder soberano.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
A ambivalência dos conceitos em Heidegger
HEIDEGGER, Martin. Introducción a la fenomenologia de la religión, trad. Jorge Uscatescu, Ciudad de México: Fondo de Cultura Economica, 2006, p. 4, tradução Marcus Vinícius Xavier de Oliveira
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Enquanto Sade Diz...
Enquanto Sade diz
... Love is stronger than pride...
Você se despe de todo o pudor que
Lhe recobre a tez ainda rubra...
O que se vê não deveria ser visto por ninguém:
A perfeição deve ser reservada somente para os deuses
(Que provavelmente não saberiam o que fazer!)
A pela alva a combinar com os bicos rosados
Dos seios que se insinuam abruptos mal-educados desrespeitosos
Frente a tanta comoção que provocam
(Eles sabem ser os mais belos que existem)
Mas a perfeição mesma se encontra em seu ventre
Que de tão belo e desejável mais se aparenta
À taça da ira que derramará sobre os mortais
Todas as maldições previstas nos livros da revelação...
(A consumação dos tempos é agora e não o antes e o depois)
... Nothing can come between us... Sade insinua,
E você finge
Não perceber que toda a natureza -
Secas tsunamis ciclones furacões -
Se silencia no momento em que o
Aroma de seu hálito
Se faz percebível...
... Like a tatoo...
As marcas são mais profundas que os
Poros músculos veias juntas ossos e alma
Possam geograficamente demarcar
(Os deuses não se preocupam com os homens – só os homens com eles).
terça-feira, 13 de maio de 2008
Giorgio Agamben - A Comunidade que Vem - Capítulo 1
O ser que vem é o ser que, seja como for, importa. Na enumeração escolástica do transcendental (quodlibet ens est unum, verum, bonnum seu perfectum, qualquer que seja o ente é um, verdadeiro, bom ou perfeito), o termo que restando impensado em cada um, mas que condiciona o significado de todos os outros termos é o adjetivo quodlibet. A tradução corrente no sentido de “não importa qual, indiferentemente” é certamente correta, mas, quanto à forma, exprime exatamente o contrário do latino: quodlibet ens não é “o ser, não importa qual”, mas “o ser tal que, seja como for, importa”; ele contém, então, desde sempre uma devolução ao desejar, o ser não-importa-qual (qual-si-voglia)[1] está em relação original com o desejo.
O qualquer que seja que aqui está em questão não toma, de fato, a singularidade na sua diferença em relação a uma propriedade comum (a um conceito, por exemplo: o ser russo, francês ou muçulmano), mas somente no seu ser tal como é. Com isto, a singularidade se desliga do falso dilema que compromete a experiência do universal, uma vez que o inteligível, conforme a bela expressão de Gersonide, não é um universal nem um indivíduo enquanto contido numa classe, mas “singularidade enquanto singularidade qualquer que seja”. Nesta, o-ser-tal é retomado do seu pertencer a esta ou aquela propriedade, da qual identifica a atribuição a este ou aquele conjunto, a esta ou aquela classe (os russos, os franceses, os muçulmanos) – e retoma não em relação à outra classe ou em relação a uma simples ausência genérica de toda atribuição semelhante. Pois o-ser-tal, que resta constantemente escondido na condição de atribuição (“um x tal que pertence a y”), e que não é de modo algum um predicado real, vem igualmente à luz: a singularidade exposta como tal é não-importa-qual (qual-si-voglia), isto é, amável.
Uma vez que o amor jamais se dirige em relação a esta ou aquela propriedade do amado (o-ser-loiro, jovem, meigo, coxo), da mesma forma que nem mesmo desta prescinde em nome da insípida generalidade (o amor universal): ele requer o objeto com todos os seus predicados, o seu ser tal como é. Ele deseja o qual só enquanto é tal – isto é o seu particular fetichismo. Pois a singularidade qualquer que seja (o Amável) não é mais capacidade de qualquer coisa, desta ou daquela qualidade ou essência, mas somente a capacidade de uma incapacidade. O movimento, que Platão descreve como anamnese erótica, é aquele que transporta o objeto não na direção de outra coisa ou outro lugar, mas na direção de seu ter-lugar – na direção da Idéia
AGAMBEN, Giorgio. La comunità che viene, Torino: Bollati Boringhieri, pp. 9-10, 2001 – Tradutor: Marcus Vinícius Xavier de Oliveira.
[1] A afirmação da existência de uma relação original entre o ser qualquer que seja e o desejo, donde a idéia de uma devolução daquele a este, somente é compreensível tendo-se em vista que a palavra italiana qualsivoglia já trás em sua composição o desejo (voglia).
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Henri Cartier Bresson
segunda-feira, 5 de maio de 2008
A Palavra Final - Elemér Horváth
ele tem um secretário da cultura
o Secretário tem um primeiro-ministro
o Primeiro-ministro tem um governo
o Governo tem uma polícia
a Polícia tem armas
Eu tenho um poema
o poema é um tirano
recusa assumir compromissos
no sentido estrito da palavra
é a palavra final.
HORVÁTH, Elemér. A neve é azul como uma laranja.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
O Macaco Que Queria Ser Um Escritor Satírico - Augusto Monterroso
Estudou muito, mas rapidamente percebeu que para ser um escritor satírico lhe faltava conhecer os outros e aplicou-se a visitá-los todos e a ir aos cocktails e a observá-los pelo canto do olho enquanto estavam distraídos com um copo na mão.
Como era muito divertido e as suas ágeis piruetas entretinham os outros animais, era bem recebido em qualquer parte e aperfeiçoou a arte de ser ainda melhor recebido.
Não havia quem não ficasse fascinado com a sua conversa e quando chegava era recebido com júbilo tanto pelas Macacas como pelos esposos das Macacas e pelos outros habitantes da Selva, perante os quais, por contrários que lhe fossem em política internacional, nacional ou doméstica, se mostrava invariavelmente compreensivo; sempre, claro, com vontade de investigar a fundo a natureza humana para poder retratá-la nas suas sátiras.
Chegou assim o momento em que de entre os animais era ele o maior conhecedor da natureza humana, sem que nada lhe escapasse.
Então, um dia disse a si próprio “vou escrever contra os ladrões”, e concentrou-se na Pêga, e começou a fazê-lo com entusiasmo e gozava e ria e trepava de prazer às árvores por causa das coisas que lhe ocorriam acerca da Pêga; mas de repente lembrou-se de que entre os animais de sociedade que o recebiam havia muitas Pêgas e especialmente uma, e que se iam ver retratadas na sua sátira, por suave que a escrevesse, e desistiu de o fazer.
Depois quis escrever sobre os oportunistas, e ficou com a Serpente debaixo de olho, a qual, por diversos meios que resultavam da sua arte adulatória, lograva sempre conservar, ou substituir, melhorando-os, os seus cargos; mas várias Serpentes suas amigas, e especialmente uma, sentir-se-iam atingidas, e desistiu de o fazer.
Depois desejou satirizar os trabalhadores compulsivos e deteve-se na Abelha, que trabalhava estupidamente sem saber para quê nem para quem; mas por medo que os seus amigos deste género, e especialmente um, se ofendessem, acabou por compará-la favoravelmente à Cigarra, que, egoísta, não fazia senão cantar e cantar, dando-se ares de poeta, e desistiu de o fazer.
Depois ocorreu-lhe escrever contra a promiscuidade sexual e dirigiu a sua sátira contra as Galinhas adúlteras que andavam todo o dia inquietas em busca de jovens Galos; mas tantas destas já o tinham recebido que temeu ofendê-las, e desistiu de o fazer.
Finalmente, elaborou uma lista completa das debilidades e defeitos humanos e não encontrou contra quem dirigir as suas baterias, pois todos estavam nos amigos que partilhavam a sua mesa e em si próprio.
Nesse momento renunciou a ser escritor satírico e começou a dar-lhe para a Mística e o Amor e essas coisas; mas por causa disso, já se sabe como são as pessoas, todos disseram que tinha ficado louco e já não o recebiam tão bem nem com tanto gosto.
MONTERROSO, Augusto. A ovelha negra e outras fábulas, trad. Ana Bela Almeida, Coimbra: Angelus Novus, pp. 15-17, 2008.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
O Coelho e o Leão - Augusto Monterroso
Um célebre Psicanalista encontrou-se certo dia no meio da Selva, meio perdido.
Com a força que dão o instinto e a sede investigadora conseguiu facilmente subir a uma altíssima árvore, a partir da qual pôde observar à vontade não apenas o lento pôr-do-sol como a vida e os hábitos de alguns animais, que comparou uma e outra vez com os dos seres humanos.
Ao cair da tarde viu aparecerem, por um lado, o Coelho; por outro, o Leão.
No início não aconteceu nada digno de ser mencionado mas pouco depois ambos os animais sentiram as suas respectivas presenças e, quando deram um com o outro, cada qual reagiu como tinha vindo a fazer sempre desde que o homem era homem.
O Leão estremeceu a Selva com os seus rugidos, sacudiu a juba majestosamente como era seu costume e rasgou o ar com as suas garras enormes, o Coelho respirou mais depressa, viu por um instante os olhos do Leão, deu meia volta e afastou-se a correr.
De regresso à cidade o célebre Psicanalista publicou cum laude o seu famoso tratado no qual demonstra que o Leão é o animal mais infantil e cobarde da Selva, e o Coelho o mais valente e maduro: o Leão ruge e faz gestos e ameaça o Universo movido pelo medo; o Coelho, percebendo isto, consciente da sua própria força retira-se antes de perder a paciência e acabar com aquele ser extravagante e fora de si, que ele já conhece e que afinal nunca lhe fez nada.
MONTERROSO, Augusto. A ovelha negra e outras fábulas, trad. Ana Bela Almeida, Coimbra: Angelus Novus, pp. 13-14, 2008.
terça-feira, 22 de abril de 2008
Monólogo do Mal - Augusto Monterroso
Um dia o Mal encontrou-se face a face com o Bem e esteve a ponto de o engolir para acabar de uma vez por todas com aquela disputa ridícula; mas ao vê-lo tão pequenino o Mal pensou:
"Isto só pode ser uma emboscada; pois se eu agora engolir o Bem, que se encontra tão fraco, as pessoas vão pensar que fiz mal, e eu vou encolher-me tanto de vergonha que o Bem não desperdiçará a oportunidade e engolir-me-á a mim, com a diferença de que nessa altura toda a gente pensará que ele fez bem, pois é difícil arrancá-la aos seus moldes mentais consistentes de que o que o Mal faz é mau e o que o Bem faz é bom."
E assim o Bem salvou-se mais uma vez.
MONTERROSO, Augusto. A ovelha negra e outras fábulas, trad. Ana Bela Almeida, Angelus Novus, 2008, Coimbra.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Pessoa - Drummond - Gulla
Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos...
Nada está mudado – ou, pelo menos, não dou
isto –
Nesta localidade da cidade...
Há vinte anos!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de nada...
Vinte anos inúteis (e sei lá se o foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria ganhá-los?)
Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me possa lembrar...
O outro que aqui passava então,
Se existisse hoje, talvez se lembrasse...
Há tanta personagem de romance que conheço
melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos
passava aqui!
Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo.
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o dizer...
Daquela janela do segundo andar, ainda idêntica a
si mesma,
Debruçava-se então uma rapariga mais velha que
eu, mas lembradamente azul.
Hoje, se calhar, está o quê?
Podemos imaginar tudo do que nada sabemos.
Estou parado física e moralmente: não quero
imaginar nada...
Houve um dia em que subi esta rua pensando
alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja
fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso
alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a imprenssão que as duas figuras se cruzaram
na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o
cruzamento.
Olhamos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro
girassol
E eu mesmo lá desci a rua não imaginando nada.
Talvez isso realmente se desse...
Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...
Sim, talvez...
MUNDO GRANDE
Não, meu coração não é maior que o mundo,
é muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho
[cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu
[espereva.
Mas também a rua não cabem todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e
[livros, carne, algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso,
[amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele se estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que os homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei,
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas
[e convocando ao suicídio.
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem,
entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a noticia
de que o mundo, o grande mundo está
[crescendo todos os dias
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode,
- Ó vida futura! nós te criaremos.
DOIS E DOIS: QUATRO
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
O lamento inicial de Fausto - Goethe
Nacht: In einem hochgewölbten, engen gotischen Zimmer Faust, unruhig auf seinem Sessel am Pulte:
FAUST:
Habe nun, ach! Philosophie,
Juristerei und Medizin,
Und leider auch Theologie
Durchaus studiert, mit heißem Bemühn.
Da steh ich nun, ich armer Tor!
Und bin so klug als wie zuvor;
Heiße Magister, heiße Doktor gar
Und ziehe schon an die zehen Jahr
Herauf, herab und quer und krumm
Meine Schüler an der Nase herum-
Und sehe, daß wir nichts wissen können!
Das will mir schier das Herz verbrennen.
Zwar bin ich gescheiter als all die Laffen,
Doktoren, Magister, Schreiber und Pfaffen;
Mich plagen keine Skrupel noch Zweifel,
Fürchte mich weder vor Hölle noch Teufel-
Dafür ist mir auch alle Freud entrissen,
Bilde mir nicht ein, was Rechts zu wissen,
Bilde mir nicht ein, ich könnte was lehren,
Die Menschen zu bessern und zu bekehren.
Auch hab ich weder Gut noch Geld,
Noch Ehr und Herrlichkeit der Welt;
Es möchte kein Hund so länger leben!
Drum hab ich mich der Magie ergeben,
Ob mir durch Geistes Kraft und Mund
Nicht manch Geheimnis würde kund;
Daß ich nicht mehr mit saurem Schweiß
Zu sagen brauche, was ich nicht weiß;
Daß ich erkenne, was die Welt
Im Innersten zusammenhält,
Schau alle Wirkenskraft und Samen,
Und tu nicht mehr in Worten kramen.
Noite: Num quarto gótico, com abóbadas altas e estreitas, Fausto, agitado, sentado à mesa de estudo:
FAUSTO
Ai de mim! da filosofia
Medicina, jurisprudência, e mísero eu! da teologia,
O estudo fiz, com máxima insistência.
Pobre simplório, aqui estou
E sábio como dantes sou!
De doutor tenho o nome e mestre em artes,
E levo dez ano por estas partes,
Prá cá e lá, aqui ou acolá
Os meus discípulos pelo nariz.
E vejo-o, não sabemos nada!
Deixa-me a mente amargurada.
Sei ter mais tino que esses maçadores,
Mestres, frades, escribas e doutores;
Com dúvidas e escrúpulos não me alouco,
Não temo o inferno e satanás tampouco
Mas mata-me o prazer no peito;
Não julgo algo saber direito,
Que leve aos homens uma luz que seja
Edificante e benfazeja.
Nem de ouro e bens sou possuidor,
Ou de terreal fama e esplendor;
Um cão assim não viveria!
Por isso entrego-me à magia,
A ver se o espiritual império
Pode entreabrir-me algum mistério,
Que eu já não deva, oco e sonoro,
Ensinar a outrem o que ignoro;
Para que apreenda o que a este mundo
Liga em seu âmago profundo,
Os germes veja e as vivas bases,
E não remexa mais em frases.
Oh, nunca mais argênteo luar,
Me comtemplasses o pensar!
Quanta vez, a esta mesa aqui,
Alta noite, esperei por ti!
Então, por sobre o entulho antigo
Surgias, taciturno amigo!
Ah! seu eu pudesse, em flóreo prado,
Vaguear em teu fulgor prateado,
Flutuar com gênios sobre fontes,
Tecer na semiluz dos montes,
Livre de todo saber falho,
Sarar, em banho teu, de orvalho!
sexta-feira, 4 de abril de 2008
A secularização em Carl Schmitt - Giorgio Agamben
Segundo Giorgio Agamben, "A estratégia de Schmitt é, em um certo sentido, inversa em relação àquela de Weber. Enquanto, para este, a secularização era um aspecto do processo de crescente desencantamento e desteologização do mundo moderno, em Schmitt ela mostra, ao contrário, que a teologia continua a encontrar-se presente e a agir no mundo moderno de modo eminente. Isto não implica necessariamente uma identidade de substância entre a teologia e o moderno, nem uma perfeita identidade de significado entre os conceitos teológicos e os conceitos políticos; trata-se, antes, de uma relação estratégica particular, que marca os conceitos políticos, restituindo-os à sua origem teológica [...] A secularização é, então, não um conceito, mas uma assinatura no sentido de Foucault e Malandri, isto é, algo que, em uma acepção ou em um conceito, o marca e o excede para restituí-lo a uma determinada interpretação ou a um determinado âmbito, sem, no entanto, abandonar o semiótico para constituir um novo significado ou um novo conceito. A assinatura deslocando e mudando os conceitos e signos de uma esfera a outra (neste caso, do sacro ao profano, e vice-versa) sem redefini-lo semanticamente [...] A secularização age, neste sentido, no sistema conceitual do moderno como uma assinatura que o restitui à teologia. Como, segundo o direito canônico, o sacerdote secularizado devia portar um sinal da ordem a que pertencia, assim o conceito secularizado exibe como uma assinatura o seu pertencimento à esfera teológica” (Il regno e la gloria: per una genealogia teologica dell'economia e del governo (Homo Sacer 2.2), Vicenza: Neri Pozza, 2007, pp. 15-16, trad. Marcus Vinícius Xavier de Oliveira).
terça-feira, 1 de abril de 2008
Vãmente....
DEBORD, Guy. Comentários sobre a sociedade do espetáculo, trad. Estela dos Santos Abreu, Rio de Janeiro: Contraponto, p. 237.