terça-feira, 14 de outubro de 2008

Skandala

Tentei mostrar que as nossas decisões sobre o certo e o errado vão depender de nossa escolha da companhia, daqueles com quem desejamos passar a nossa vida. Uma vez mais, essa companhia é escolhida ao pensarmos em exemplos, em exemplos de pessoas mortas ou vivas, reais ou fictícias, e em exemplos de incidentes passados ou presentes. No caso improvável de que alguém venha nos dizer que preferiria o Barba Azul por companhia, tomando-o assim como seu exemplo, a única coisa que poderíamos fazer é nos assegurarmos de que ele jamais chegasse perto de nós.
[...]
A partir da recusa ou da incapacidade de escolher os seus exemplos e a sua companhia, e a partir da recusa ou incapacidade de estabelecer uma relação com os outros pelo julgamento surgem os skandala reais, os obstáculos reais que os poderes humanos não podem remover porque não foram causados por motivos humanos ou humanamente compreensíveis. Nisso reside o horror e, ao mesmo tempo, a banalidade do mal.
(Arendt, Hannah. Responsabilidade e julgamento, p. 212).

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Só a vida basta?

Fiat iustitia, pereat mundus (Deve o mundo perecer para que a justiça seja feita?) - Kant: Wenn die Gerechtigkeit untergeht, hat es keinen Wert mehr, dass Menschen auf Erden leben (Se a justiça perece, a vida humana na terra perde o seu significado.

(Arendt, Hannah. Responsabilidade e julgamento, p. 115).

A falácia do mal menor - Arendt

Se somos confrontados com dois males, assim reza o argumento, é nosso dever optar pelo menor, ao passo que é irresponsável nos recursarmos a escolher [...] A aceitação de males menores é conscientemente usada para condicionar [...] a aceitar o mal em si mesmo.

(Arendt, Hannah. Responsabilidade e julgamento, pp. 98/99).