quinta-feira, 10 de julho de 2008

A aparência como categoria política

A rigor, a polis não é a cidade-estado em sua localização física; é a organização que resulta do agir e falar em conjunto, e o seu verdadeiro espaço situa-se entre as pessoas que vivem juntas com tal propósito, não importa onde estejam [...] Privar-se dele significa privar-se da realidade que, humana e politicamente, é o mesmo que a aparência. Para os homens, a realidade do mundo é garantida pela presença dos outros, pelo fato de aparecerem a todos: "pois chamamos de Existência àquilo que aparece a todos; e tudo o que deixa de ter essa aparência surge e se esvai como um sonho - íntima e exclusivamente nosso mas desprovido de realidade".

Arendt, Hannah. A condição humana, 10 ed., trad. Roberto Raposo, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 211.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Coragem de ser e participação

A coragem de ser como uma parte é a coragem de afirmar o próprio ser pela participação. Participa-se do mundo ao qual se pertence e do qual se está, ao mesmo tempo, separado. Porém, o participar do mundo torna-se real através da participação naquelas secções dele que constituem nossa própria vida. O mundo, como um todo, é potencial, não real. São reais aquelas secções às quais se é parcialmente idêntico. O quanto mais o ser tenha auto-relacionamento mais ele é capaz, segundo a estrutura polar da realidade, de participar. O homem, como o ser completamente centralizado, ou como uma pessoa, pode participar de tudo, mas ele participa através daquela secção do mundo que o faz uma pessoa. Só pelo contínuo encontro com outras pessoas é que a pessoa se torna e permanece uma pessoa. O lugar desse encontro é a comunidade.

Tillich, Paul. A coragem de ser, 6 ed., trad. Eglê Malheiros, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001, p. 71.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Globalização e (in)segurança.

Num mundo globalizado financeiramente, os governos locais são pouco mais que superdistritos policiais, tendo como as principais funções varrer mendigos e perturbadores das ruas, erguer muros e prisões, instalar câmaras e equipamentos de segurança, enfim, investir na suposta segurança e bem-estar dos munícipes. Sendo assim, as tarefas do "estado ordeiro" resumem-se à tarefa de combate ao crime.

DE AGUIAR, Maria Léa Monteiro. O aparato de segurança e a sensação de insegurança, in Revista Mal-Estar e Subjetividade, v. 2, n.2, p. 230, Fortaleza, 2005.